28.7.08

Em trânsito: alguma notícia





O festival de inverno em Garanhuns teve sua 18ª edição: Ney Matogrosso abriu a noite de encerramento, sábado, 26 de julho, com seu magnífico show Inclassificáveis. Depois foi a vez da Academia da berlinda se apresentar. Em seguida, a chave de ouro veio com a Orquestra Imperial (O.I.), que, além dos 17 músicos no palco, contou com o auxílio luxuoso de Wilson das Neves: "o samba é meu dom".

Um grande público se reuniu no pólo Guadalajara, apesar do intenso frio e da chuvinha chata que insistia em cair. O interesse crescente das pessoas confirma que essa tradição de "festivais" veio para ficar. (Alagoas bem que poderia ter um festival de inverno da melhor qualidade, em Penedo, p. ex., aquela jóia rara tão desperdiçada...)

Lá em Garanhuns, além dos variados shows, aconteceram exposições e outros eventos importantes. As feiras de artesanato regional movimentam bem a cena do comércio e as mostras trazem informações oportunas. É o caso de Espectador em trânsito, que esteve no Sesc-Garanhuns. As video-instalações de André Parente, Leandro Lima e Gisela Motta, de 2005, são, certamente, provocações válidas. Mas depois escrevo sobre essa história de arte digital, porque ainda estou digerindo a emergência![emoção artificial 4.0 bienal internacional de arte e tecnologia], que está aberta à visitação no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, até 14 de setembro.



foto: O.I. no palco do Festival de Inverno em Garanhuns, Pernambuco.

25.7.08

Museu da Língua Portuguesa


A língua não estancou no museu: nem na linha do tempo, nem parou na estação. A língua habita a poesia, a festa, a dança, a cidade em movimentação. A língua é o trem. Rima, em português, é quase uma canção. No relógio, quinze pras três - inverno com sol é boa combinação.

24.7.08

INFINITO ENQUANTO TRUQUE


Lael Correa ( okê arô!), um dos artistas mais importantes do cenário alagoano, e o grupo Infinito enquanto truque apresentam nova edição do espetáculo Os navegantes, construído a partir da poesia de Fernando Pessoa.

A estréia será amanhã, dia 25 de julho, às 20 horas, no teatro Jofre Soares, no SESC - Centro.

Outras apresentações acontecerão dias 26/07, 01 e 02/08, também no SESC-Centro, sempre às 20 horas.

Nos vemos lá!

23.7.08

muita calma pra sonhar



no segundo andar da BOSSA NA OCA

22.7.08

O TEMPO QUE NOS TEM





A galeria Millan, em São Paulo, abrigou a exposição Temporália, de Lenora de Barros, de 19 de junho a 16 de julho de 2008. A série de trabalhos inéditos da artista tem como referência o tempo em diversos suportes e linguagens: fotografia, serigrafia, vídeo, tapeçaria e instalação sonora.

A busca de diálogo perpassa toda a exposição. Basta observarmos a obra "Em três tempos", construída em 1994 por Lenora a partir da imagem da pegada do astronauta Neil Armstrong na lua, em 1969, aplicada sobre a fotografia "Elevage de Poussière", de Man Ray, realizada em 1920 no estúdio de Marcel Duchamp, em Nova York.

As referências de Temporália convidam mesmo para uma longa conversa. Que culmina na performance vocal de 3 minutos, com textos tratados em estúdio pela artista em parceria com o músico Cid Campos. Dentro da "cápsula" de vidro ouvimos três vozes femininas que brincam com a frase, aparentemente ingênua, "Quanto tempo o tempo tem?"

Mas foi o magnetismo da silenciosa projeção do vídeo 10' que mais me atraiu. A assepsia do tempo cronológico é investigada com delicadeza nessa instalação em que se brinca com ponteiros de relógio com uma pinça. Na tela branca projetada na parede são apresentados, ordenados e desordenados nove ponteiros que parecem escapar da intenção do que os manipula. Há uma força- imã que os movimenta de forma imprevista até que se chega a um ponto em que deixam de ser o que era esperado para se tornarem outra coisa. A sedução das imagens é seu produto incontível.

O tempo todo, como não o temos, pode ser carnavalizado: temporália nos mostra que não há fronteiras para o poeta: é continuar a conversa.

21.7.08

Marcel Duchamp: pode alguém fazer obras que não sejam "de arte"?


É curioso que o MAM, em seu aniversário de sessenta anos, inicie as comemorações com uma retrospectiva (a maior já apresentada na América Latina) intitulada Marcel Duchamp: uma obra que não é uma obra "de arte" .

Acho curioso porque a frase-título da exposição afirma algo que Duchamp sempre preferiu questionar: quem ou o que demarca as fronteiras entre arte e não-arte?

Sobre esse tema, Philadelpho Menezes gostava de contar uma anedota em suas aulas. Aprendi com ele a piada que aqui reconto. A historieta nos remete ao paraíso, com Adão à sombra de uma frondosa árvore, desenhando contente com um graveto no chão. Eis que surge a serpente, sempre mordaz, e puxa pela vaidade do "artista". Elogia-lhe o trabalho, comenta os detalhes de sua realização. Todo inflado, o ego do Adão aguça seus sentidos. É quando vem a célebre demanda da maligna: "É, Adão. Muito interessante seu desenho, mas... será Arte?"
A pergunta bastou para tirar o sono do coitado, e a partir de então, adeus paraíso.

ps: VIVA DUCHAMP!

20.7.08

GREGOS & MULATOS




"Mulato, foi de facto um grego da melhor epoca."
(frase de José Veríssimo, em artigo sobre Machado de Assis, publicado logo após sua morte)


A exposição "Machado de Assis, mas este não é um capítulo sério", aberta ao público desde o dia 15 de julho, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, dá o que pensar. Se, por um lado, é lamentável a leitura apressada que nos apresentam dos textos de tão importante escritor, por outro a exposição se salva pelo acesso à reconstituição do clima de sua época (com o piano e a música do Pe. José Maurício, p. ex.) e fotos e documentos relevantes para o conhecimento aprofundado da obra do Velho Bruxo.

Em meio ao exposto, chama atenção a carta de Joaquim Nabuco a José Veríssimo, escrita na ocasião da morte de Machado de Assis, quando Veríssimo publica em jornal matéria a respeito do escritor e amigo e envia tudo a Nabuco, que estava fora do Brasil. A resposta de Nabuco é um pedido a Veríssimo para que não se refira a Machado como "mulato". Transcrevo trecho do final da carta:

" O Machado para mim era branco e creio que por tal se tomava; quando nelle houvesse sangue estranho, isto em nada affectava sua perfeita caracterização caucasica. Eu pelo menos só vi nelle o grego. O nosso pobre amigo, tão sensivel, preferiria o esquecimento à glória com a devassa às suas origens."

17.7.08

fluxo-trama na abralic



momentos felizes de encontros e descobertas podem acontecer numa sala gelada do prédio da fau, na usp. quando pessoas resolvem mostrar o que têm de melhor, o melhor acontece.

registro: o trabalho de kara walker: que merece atenção:

13.7.08

MICROFÍSICA DO PODER




"O que se encontra no começo
histórico das coisas
não é a identidade
preservada da origem -
é a discórdia entre as coisas,
é o disparate."





Texto: Nietzsche (citado por Foucault, em Microfísica do poder)


Imagem: Cildo Meireles

11.7.08

HOMENAGEM




AOS QUE VOAM À NOITE





7.7.08

MARCHA À REVISÃO: sobre Irina Palm



Você me chama

Eu quero ir pro cinema


Nada de fugir da barra-pesada da realidade: um roteiro bem construído, bem dirigido. E muito bem interpretado pela maravilhosa Marianne Faithfull no papel da personagem principal, Maggie, ou Irina Palm.

Sam Garbarski, diretor e co-roteirista do filme, revisita a vida que corre sem misericórdia: nenhuma facilidade para a protagonista, sem currículo, sem dinheiro, solitária em um mundo nada complacente com a velhice de uma viúva num subúrbio londrino. No início do filme, tudo parece indicar mais uma tragédia do tipo mundo-cão. À beira do desespero, porém, Maggie, a pacata cinqüentona, lê o anúncio na porta da SEX WORLD e consegue lá o trabalho que proporciona condições de salvação ao neto.

Além do trunfo de contar com uma extraordinária atriz, a delicadeza do filme é saber mostrar que tudo é certo e errado, ao mesmo tempo. Separar as coisas não funciona, como queria Luisa, colega de Maggie no ofício de “punhetista”, que insiste em dividir os mundos, mas ao ser despedida do emprego desiste de sua amizade.

O filme é, no mínimo, bastante polêmico. É curioso ler as sinopses e críticas de Irina Palm. Ficamos sem saber se é um reacionário filme sobre moral e bons costumes ou um revolucionário projeto sobre temas-tabus, como comércio de sexo, hipocrisia e falsa moral ocidental. É preciso reconhecer que se trata de uma boa jogada, com lances brilhantes de humor e sensibilidade.

O segundo longa de Sam Garbarski, ironicamente filmado com a câmera de mão, mostra o quanto vale um toque suave em qualquer profissão. No caso de Maggie, rebatizada pelo patrão como Irina Palm, conseguir dignidade em um contexto esquizofrênico é a arte que faz dela “a melhor”. Revelar seu segredo no chá das cinco às amigas hipócritas é afirmar o que realmente conta - o modo de mirar, porque, afinal, talvez se possa morrer mais de uma vez.


Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema.


Pra ver o trailer do filme, aqui.

Ficha técnica:

IRINA PALM, 2007

Direção: Sam Garbaski

Roteiro:Philippe Blasband, Sam Garbarski, Martin Herron

Fotografia:Christophe Beaucarne

Montagem:Ludo Troch

Música:Ghinzu

Elenco:Marianne Faithfull, Miki Manojlovic, Kevin Bishop, Siobhan Hewlett, Dorka Gryllus, Jenny Agutter

Produtor:Shu Aiello

Produtora:Entre Chien et Loup

world sales:Pyramide International

103 minutos, color digital


Palavras em itálico: Torquato Neto




3.7.08

UM QUADRO


a suavidade

do azul

não

encobre as

setas

- qual o rumo?

(o homem fala

balança donde

fala)


portas e janelas

sempre

abertas

à contingência


nosso espaço

buscamos

onde sombra

somos


o caminho
entre

linhas e

movimentos:

no sonho

que dançamos


imagem: Equilíbrio oscilante, Paul Klee, 1922.