O poeta caminha sereno pelas ruas, viadutos e avenidas. Porque é um craque, conhece "o labirinto/ por pisá-lo/ por tê-lo/ de cor na ponta dos pés". A força de seus versos não é menor que sua voz, e sua presença é extraordinária na cena internacional da performance poética. Quem já o viu performar, sabe como é quando o poema ganha corpo. Entre a cabeça e a ponta dos pés, Ricardo mostra ao mundo que sua fortuna pessoal vai além da conta. Neste dia de seu aniversário, é bom comemorar sua existência com poemas:
OiáRepito o que
recita o vento:
que as coisas vêm
a seu tempo,
que elas sabem
qual tempo é o delas,
que esse tempo
quase nunca
é o dos viventes, mas
que, assim sendo,
força é render-se
à força delas
movendo-se, folha
ao vento, rasgacéus,
deusa ciosa das coisas
que lhe ofertem
e de cada corpo quando
dance na festa
em seu nome ao vento.
Veja-a: resplendente
aqui, já apontando
ali - epa, Oia-Ô!
(do livro
A Roda do Mundo)
Coltrane às 3e há, você
sabe, frases, as
pequenas coisas,
incompletas,
besouros incrustados
na planta, ouvi-las
uma única vez é
ouvi-las sempre.
roendo-a, que o vento
leva, a hora
desdobrável
em muitas,
ouça-as,
limpas de lembranças,
para um lugar
a esmo,
(do livro
Trívio)
Paupéria revisitadaPutas, como deuses,
vendem quando dão.
Poetas, não.
Policiais e pistoleiros
vendem segurança
(isto é, vingança ou proteção).
Poetas se gabam do limbo, do veto
do censor, do exílio, da vaia
e do
dinheiro não).
Poesia é pão (para
o espírito, se diz), mas atenção:
o padeiro da esquina balofa
vive do que faz; o mais
fino poeta, não.
Poetas dão de graça
o ar de sua graça
(e ainda troçam
-na companhia das traças-
de tal "nobre condição").
Pastores e padres vendem
lotes no céu
à prestação.
Políticos compram &
(se) vendem
na primeira ocasião.
Poetas (posto que vivem
de brisa) fazem do
No, thanksseu refrão.
(do livro
Máquina Zero)