27.6.09

TAZIO ZAMBI

DEEM UM SAQUE
NO POEMA TEXTUDO
DO TZ








primeira lição de poesia



24.6.09

"OLHAR É UM EXERCÍCIO COTIDIANO DE RESISTÊNCIA"



“Então é verdade, no Brasil é duro ser negro?”

Lucrécia Paco, a mais importante atriz de Moçambique diz ter sofrido discriminação racial em São Paulo

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O texto abaixo é de Eliane Brum, REPÓRTER .

Fazia tempo que eu não sentia tanta vergonha. Terminava a entrevista com a bela Lucrécia Paco, a maior atriz moçambicana, no início da tarde desta sexta-feira, 19/6, quando fiz aquela pergunta clássica, que sempre parece obrigatória quando entrevistamos algum negro no Brasil ou fora dele. “Você já sofreu discriminação por ser negra?”. Eu imaginava que sim. Afinal, Lucrécia nasceu antes da independência de Moçambique e viaja com suas peças teatrais pelo mundo inteiro. Eu só não imaginava a resposta: “Sim. Ontem”.

Lucrécia falou com ênfase. E com dor. “Aqui?”, eu perguntei, num tom mais alto que o habitual. “Sim, no Shopping Paulista, quando estava na fila da casa de câmbio trocando meus últimos dólares”, contou. “Como assim?”, perguntei, sentindo meu rosto ficar vermelho.
Ela estava na fila da casa de câmbio, quando a mulher da frente, branca, loira, se virou para ela: “Ai, minha bolsa”, apertando a bolsa contra o corpo. Lucrécia levou um susto. Ela estava longe, pensando na timbila, um instrumento tradicional moçambicano, semelhante a um xilofone, que a acompanha na peça que estreará nesta sexta-feira e ainda não havia chegado a São Paulo. Imaginou que havia encostado, sem querer, na bolsa da mulher. “Desculpa, eu nem percebi”, disse.

A mulher tornou-se ainda mais agressiva. “Ah, agora diz que tocou sem querer?”, ironizou. “Pois eu vou chamar os seguranças, vou chamar a polícia de imigração.” Lucrécia conta que se sentiu muito humilhada, que parecia que a estavam despindo diante de todos. Mas reagiu. “Pois a senhora saiba que eu não sou imigrante. Nem quero ser. E saiba também que os brasileiros estão chegando aos milhares para trabalhar nas obras de Moçambique e nós os recebemos de braços abertos.”

A mulher continuou resmungando. Um segurança apareceu na porta. Lucrécia trocou seus dólares e foi embora. Mal, muito mal. Seus colegas moçambicanos, que a esperavam do lado de fora, disseram que era para esquecer. Nenhum deles sabia que no Brasil o racismo é crime inafiançável. Como poderiam?

Lucrécia não consegue esquecer. “Não pude dormir à noite, fiquei muito mal”, diz. “Comecei a ficar paranoica, a ver sinais de discriminação no restaurante, em todo o lugar que ia. E eu não quero isso pra mim.” Em seus 39 anos de vida dura, num país que foi colônia portuguesa até 1975 e, depois, devastado por 20 anos de guerra civil, Lucrécia nunca tinha passado por nada assim. “Eu nunca fui discriminada dessa maneira”, diz. “Dá uma dor na gente. ”

Ela veio ao Brasil a convite do Itaú Cultural, que realiza até 26 de junho, em São Paulo, o Antídoto – Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito. Lucrécia apresentará de hoje a domingo (19 a 22/6), sempre às 20h, a peça Mulher Asfalto. Nela, interpreta uma prostituta que, diante de seu corpo violado de todas as formas, só tem a palavra para se manter viva.

Lucrécia e o autor do texto, Alain-Kamal Martial, estavam em Madagáscar, em 2005, quando assistiram, impotentes, uma prostituta ser brutalmente espancada por um policial nas ruas da capital, Antananarivo. A mulher caía no chão e se levantava. Caía de novo e mais uma vez se levantava. Caía e se levantava sem deixar de falar. Isso se repetiu até que nem mesmo eles puderam continuar assistindo. “Era a palavra que a fazia levantar”, diz Lucrécia. “Sua voz a manteve viva.” Foi assim que surgiu o texto, como uma forma de romper a impotência e levar aquela voz simbólica para os palcos do mundo.

Mais tarde, em 2007, Lucrécia montou o atual espetáculo quando uma quadrilha de traficantes de meninas foi desbaratada em Moçambique. Eles sequestravam crianças e as levavam à África do Sul. Uma menina morreu depois de ser violada de todas as maneiras com uma chave de fenda. Lucrécia sentiu-se novamente confrontada. E montou o Mulher Asfalto.

Não poderia imaginar que também ela se sentiria violada e impotente, quase sem voz, diante da cliente de um shopping em um outro continente, na cidade mais rica e moderna do Brasil. Nesta manhã de sexta-feira, Lucrécia estava abatida, esquecendo palavras. Trocou o horário da entrevista, depois errou o local. Lucrécia não está bem. E vai precisar de toda a sua voz – e de todas as palavras – para encarnar sua personagem nesta noite de estréia.

“Fiquei pensando”, me disse. “Será que então é verdade? Que no Brasil é difícil ser negro? Que a vida é muito dura para um preto no Brasil?” Eu fiquei muda. A vergonha arrancou a minha voz.


Eliane Brum, autora do texto acima e do título desta postagem, também é autora do livro A vida que ninguém vê, publicado pelo Arquipélago Editorial, Porto Alegre, 2006.


23.6.09

TUDO MUITO BLOG



Na tarde da quarta-feira passada recebi um e-mail de uma jornalista conhecida minha que me convidava a colaborar com a matéria que estava escrevendo sobre blogues. Para começo de conversa, grafo BLOGUE por uma afirmação da minha voz. Não falo "blog", e, nas palavras de Oswald de Andrade, "como somos, como falamos".

Apesar de estar muito ocupada, cheguei naquele dia do trabalho em casa depois das 22h, respondi ao questionário que ela me enviou com o "pedido" de que o fizesse no mesmo dia e enviei para ela às 23h30.

Respondi prontamente, sobretudo em consideração a editoria do Caderno B do Jornal Gazeta de Alagoas, um dos poucos espaços na terra do mestre Graça em que vemos a arte e a cultura serem prestigiados com a isenção e a seriedade possíveis a um veículo de comunicação de massas.

A matéria da jornalista saiu, mas eu estava em Campina Grande, no maior São João do mundo. Ontem, ao retornar, vi o jornal e me assustei com a maneira que minhas palavras foram entendidas e publicadas. Não que isso seja muito importante: cá para nós, pouca gente se importa com o que acontece no cenário da poesia, da música, da literatura.

Acontece que usar as palavras de alguém fazendo recortes e corrigindo o modo da pessoa escrever um termo (que conscientemente decidiu grafar daquela forma) não é lá muito bacana. Também não apreciei muito a maneira de destacar o fato de que não adoto o modo convencional para comentários às minhas postagens.

Sei que é muito interessante ler comentários nos blogues, muita gente só vive disso, mas, no meu caso, preferi correr o risco de receber comentários por e-mail. E fica ali, no alto da página, meu endereço, para isso. Como disse na entrevista, meu blogue não é um forum. É uma posse minha, e não querer me comprometer em controlar a recepção de comentários é uma decisão muito pensada. Se a jornalista tivesse criticado abertamente minha escolha, eu entederia, é um direito dela. Mas fazer uma apresentação do DIASEMPREVISÃO como um blogue "principalmente de literatura e de minha vida pessoal" e ressaltar a ausência de espaço para comentar é simplesmente prova de que as passadas que ela deu aqui foram só para constar.

O principal, para mim, é esclarecer que Dia Sem Pré Visão, dias em previsão, Dia Sempre Visão é um convite, sim, ao diálogo. Ver com olhos livres, isso me interessa.

Aproveito para REFORÇAR que aqueles que por ventura quiserem (como alguns já quiseram) participar deste espaço mais de perto, podem se manifestar.

Grande abraço!



18.6.09

o lugar dissonante

Registro da visita à Torre Malakoff, no Recife, onde encontramos trabalhos que instauram "um lugar onde vivenciar consonâncias e dissonâncias, num convite à experimentação perceptiva e social".

Re

Acima, detalhe da "Teia", de Paulo Nenflidio.

16.6.09

15.6.09

QUE VONTADE

de ficar à toa...


13.6.09

NO ATELIÊ COM PAULO BRUSCKY



Quarta-feira à tarde, dia 10 de junho. Paulo Bruscky nos recebe (Marcelo Marques, Gil Santos, Marta Emília, Marcus Matias e eu) para uma conversa franca, tranquila, calorosa. Sem pressa e sem presunção alguma, o artista nos fala de sua vida, de seu trabalho, de suas manias e alegrias.

No labirinto de peças e livros que compõem o ateliê de Paulo Bruscky, encontramos centenas de trabalhos instigantes, daqueles que nos fazem pensar e ter vontade de fazer os nossos também.


Animado, Paulo Bruscky apresenta os protótipos de sua mais recente invenção: ENSAIOS.
Para uma grande instalação, com tubos de vidro em dimensões de cerca de 2m, que atravessarão paredes recheados de pedaços de jornais da época, em várias línguas. Notícias em processo.

Marta Emília conta de sua pesquisa sobre "poema objeto" e encontra no artista um aliado.









O poeta fala das possibilidades
da tecnologia com a naturalidade
de quem sempre esteve em rede:
seu trânsito pela arte postal,
muito antes da internet,
o ensinou a manter sempre vivas as
presenças dos amigos,
poetas do mundo a fora.










Paulo Bruscky vive de seus projetos sempre em construção. Fala da exposição em Cuba, das obras nas galerias, dos cursos que tem ministrado pelo Brasil. Conta dos amigos, da família e nos convida para a cachaça do sábado.
Não vai faltar oportunidade.
O poeta, que já admirávamos, agora nos conquistou de vez.