SONETO
Neste mundo é mais rico o que mais rapa;
Quem mais limpo se faz, mais crepa;
Com sua língua, ao nobre, o vil decepa;
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa;
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa;
Quem tem dinheiro, pode ser papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa;
Mais isento se mostra o que mais chupa..
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
Neste mundo é mais rico o que mais rapa;
Quem mais limpo se faz, mais crepa;
Com sua língua, ao nobre, o vil decepa;
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa;
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa;
Quem tem dinheiro, pode ser papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa;
Mais isento se mostra o que mais chupa..
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
(Gregório de Matos Guerra, na cidade da Bahia, no século 17 )