17.5.11


MIDIA É PLURAL

Alguns filósofos consideram a etimologia uma espécie de atletismo do pensamento. RE-conhecer a origem das palavras, sua história e seus diferentes usos é  um exercício fundamental da inteligência.
Nesta perspectiva, o termo mídia dá o que pensar. Aqui no Brasil, seu emprego é cercado de diversas ambiguidades e caracteriza o que se convencionou chamar, gramaticalmente, de formação irregular. Isso ocorre pelo fato do termo, que seria singular, mídia, possuir uma acepção derivada do inglês, meios de comunicação, no plural. Assim, apesar da origem do termo ser latina, em que medium é meio, no singular,  e media é meios, no plural, importamos o emprego do termo da língua inglesa. Porém, em inglês, os termos são grafados como no latim e aparecem como medium (se pronuncia midium) e  media (se pronuncia mídia).
Durante algum tempo, no Brasil, as grafias media e mídia conviveram e foram utilizadas indistintamente.Também era comum encontrar o plural mídias antecedido de artigo masculino ou feminino (as mídias, os mídias).
Nos últimos anos, entretanto, a palavra mídia, sem s, antecedida do artigo feminino (a midia) fixou-se dominantemente como uma espécie de entidade absoluta e é empregada tanto no sentido estrito do jornalismo impresso como no sentido dos meios de comunicação em geral, incluindo a televisão, o rádio, o cinema e a internet. Mais abrangente ainda, o termo “mídia” aparece, muitas  vezes, referindo-se aos recursos tecnológicos  em geral ou a um  instrumento maquiavélico de poder.


A generalização do termo, por um lado, é curiosa em seu aspecto simplificador e  pela apropriação do plural inglês, ao mesmo tempo  como singular e plural na língua brasileira (no dicionário Aurélio, p. ex., encontramos mídia como termo originado do inglês, sem menção ao latim). Por outro lado,  essa generalização pode ser empobrecedora, principalmente quando há uma indistinção dos  meios e de seus usos. Por que eles  são, na realidade, muito diferentes e antagônicos em seus processos de criação e comunicação. Seria válido, talvez, até insistir no emprego do plural, mídias, mas o que mais interessa parece ser  a compreensão do aspecto PLURAL do termo, mesmo quando lemos∕escrevemos mídia no singular.


Vale a pena salientar os traços diferenciais e sui generis, repletos de particularidades, que compõem cada mídia individualmente, e, principalmente, cada procedimento de sua utilização, pois só assim é possível compreender uma cultura que nasce nos trânsitos, intercâmbios, fricções e misturas entre esses diferentes meios de realização e comunicação, gerando movimentos constantes de transformação das culturas eruditas e populares bem como nos processos de produção e recepção da cultura de massas.
Só mais um lance: no dicionário de língua inglesa, onde encontramos media(mídia) como membrana, “a mediana das artérias e veias”, podemos observar a riqueza do termo,  pois a membrana de uma artéria ou veia é, ao mesmo tempo, sua viagem, seu destino, e seu canal, que dá passagem e comunica: mediatiza, isto é, realiza sua vida.