31.12.08
28.12.08
ÁRVORES DE ÂNGELA
É como se Deus irradiasse uma forte energia
Que sobe pelo chão
E se transforma em ondas de baião, xaxado e xote
Que balança a trança do cabelo da menina, e quanta alegria!"
Em rápida viagem à Paraiba, visitei o ateliê de Ângela Cirne. Fiquei encantada com sua floresta em construção, que sairá muito linda, na próxima fornada de seus trabalhos, no início de 2009.
18.12.08
NÃO SOU NINGUÉM
Em 45 exercícios de transcriação poética, Augusto de Campos nos apresenta sua leitura de Emily Dickinson.
Para ler uma entrevista do poeta sobre esse seu mais recente trabalho publicado, acesse a revista Cronópios, aqui.
Segue um aperitivo:
If recollecting were forgetting,
Then I remember not.
And if forgetting, recollecting,
How near I had forgot.
And if to miss, were merry,
And to mourn, were gay,
How very blithe the fingers
That gathered this, Today!
(c. 1858)
Se recordar fosse esquecer,
Eu não me lembraria.
Se esquecer, recordar,
Eu logo esqueceria.
Se quem perde é feliz
E contente é quem chora,
Que alegres são os dedos
15.12.08
LIBERTEM A PICHADORA CAROLINE PIVETTA DA MOTA
{ No dia da abertura da 28ª Bienal de Artes de São Paulo, 40 pichadores entraram no Pavilhão e "atacaram" com seu design gráfico todo particular o segundo andar o prédio, o local que estava o chamado "vazio" proposto pela curadoria que consistia de paredes e pilastras brancas. Na ocasião, a pichadora Caroline Pivetta da Mota foi a única detida sob a alegação de depredar o patrimônio público. Acusada de se associar a "milicianos" para "destruir as dependências do prédio", a jovem continua presa.
O que nós, agentes culturais, estranhamos é que existe um paradoxo nesse caso, pois se trata de patrimônio público, mas também de uma mostra de arte contemporânea, local propício para esse tipo de manifestação desde o começo do século 20.
Como escreveu o professor e artista Artur Matuck: "As paredes foram pichadas e repintadas e a mostra não foi prejudicada. Independente da discussao estética, se a pichaçao é ou não arte, se se justifica ou não, a atuação deste grupo ao invadir o prédio da Bienal com um grupo de pichadores, foi também um ato expressivo, foi inequivocamente uma manifestaçao cultural. [...] Uma discussão ampla e bem informada sobre o fenômeno cultural da pichaçao é relevante desde que na medida em que não é validado enquanto expressao artistica pode ser considerado como vandalismo e justificar repressão".
Repressão essa que faz Caroline estar presa até hoje e ainda pegar uma pena de 3 anos.
Por isso pedimos: LIBERTEM A PICHADORA CAROLINE PIVETA DA MOTA! }
Observação: Acabo de receber o texto acima por email. Ele está no site http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/001971.html
Para assinar a lista a favor da libertação de Caroline, AQUI.
DOMINGO NA TV
Assisti ontem à tarde, no meu querido Canal Brasil, a um documentário realizado neste ano de 2008: O Brasil da Virada, dirigido por Dainara Toffoli e Ninho Moraes. O filme de média-metragem (30 min) propõe um debate sobre as transformações da sociedade no século 20, com ênfase às mudanças ocorridas na realidade brasileira. Vários importantes pensadores de diversas áreas como história, jornalismo, psicanálise, sociologia e genética, analisam o tema "crise do padrão civilizatório brasileiro".
Os entrevistados consideram a degradação dos recursos do planeta, os resultados dos massacres das grandes guerras mundiais e da produção cada vez maior de lixos e poluentes. De forma abrangente, o documentário faz um apanhado geral da história e dos acontecimentos ocorridos nos últimos cem anos. Imagens de filmes como Carandiru (2003), Cidade de Deus (2002), e Ônibus 174 (2002) ilustram aspectos da crise mundial na sociedade brasileira.
Entre muita coisa que o filme me fez pensar, destaco dois pontos: o primeiro é a imagem emblemática da montanha russa, utilizada no documentário como vinheta para separar os blocos de entrevistas. Embora presente em textos de importantes estudiosos, a metáfora é questionável quando se refere a processos históricos. Dentro do próprio documentário, de um modo contundente, o antropólogo Hermano Vianna nos mostra que a montanha russa ainda guarda uma compreensão linear da história. Ele prefere a idéia de teia, tomada da própria WEB, para indicar que não é mais possível pensarmos em relações estabelecidas sob eixos fixos. Achei curiosa a capacidade dos diretores do documentário que se permitiram o questionamento de dentro de sua própria realização... e mais curioso o fato que, após a fala de Vianna, a imagem da montanha russa passa a ser utilizada no filme de outra forma, numa montagem que a transforma em rede.
Também chamaram minha atenção as falas da geneticista MAYANA ZATZ. Nascida em Israel, Mayana vive no Brasil desde os 7 anos de idade e coordena, hoje, importante núcleo de estudos genéticos na Universidade de São Paulo. Além das diversas referências que faz ao trabalho com células-tronco, mostrando com otimismo transformações que podem trazer benefícios para a qualidade de vida de toda humanidade, a pesquisadora apresenta um argumento importante para os avanços da compreensão genétca: nosso grande desafio não é mais o acesso aos sequenciamentos das informações genéticas. Antes tão raros, caros e difíceis, hoje esses estudos vem se tornando bastante acessiveis. Para Zatz, a grande questão agora é: saber INTERPRETAR tantas informações disponíveis no universo múltiplo dos estudos genéticos. A cientista indica, em seus questionamentos, a importância da imaginação e da consciência ética, sem as quais os avanços científicos representarão quase nada para o cenário de injustiças sociais.
13.12.08
NA POLIS DA POIESIS
IMPERDÍVEL! Click aqui para encontrar PROFILOGRAMA & TEXTO simplesmente GENIAIS de Augusto de Campos!!!!!
9.12.08
SABIÃO BESTUNES
Dia 05 de dezembro Sebastião Nunes (com todos os seus codinomes) completou 70 (setenta) anos.
O motivo de celebração é não apenas o aniversário do poeta, mas a existência exuberante de sua obra.
Numa singela homenagem, segue o Sumário general do seu emblemático "Elogio da punheta", uma das mais sérias brincadeiras do rapaz, agora septuagenário.
Para ler o texto na íntegra, clique aqui.
ELOGIO DA PUNHETA
SUMÁRIO GENERAL
0 - Introdução general
1 - A punheta-em-si: descobrimento, descoberta ou invenção?
1.1 - A punheta como descobrimento
1.1.1 - O caso do botão
1.1.2 - O caso da barata na sopa
1.1.3 - O caso do cadáver ainda quente
1.2 - A punheta como descoberta
1.2.1 - Tirar os restos de roupa de um cadáver ainda quente
1.2.2 - Tirar a carapaça de um cágado
1.2.3 - Tirar a casca de uma ferida semicicatrizada
1.3 - A punheta como invenção
1.3.1 - Encontrando um osso o cachorro
1.3.2 - Fumando um automóvel o macaco
1.3.3 - Rebolando a bunda a formiga
2 - Características gramaticais da punheta
2.1 - Do gênero
2.2 - Do número
2.3 - Do grau
3 - Entrevista à Revista das Gentes Peladas, por Sebunes Nastião
4 - Das posições ecumênicas
4.1 - Deitado em colchão
4.2 - Deitado em colchão com reguinho no sítio adequado
4.3 - Deitado com buraco no travesseiro
4.4 - Sentado no vaso
4.5 - Com pulseira dourada enrolada no pau
4.6 - Variantes, derivações e desvarios
5 - Conclusões preliminares: da imaginação criadora
6 - Conclusões finais: da imaginação redundante
7 - Epílogo: da superioridade da punheta sobre as demais artes liberais
PS: Acabo de ler no Jaguadarte, com grande alegria, notícia da publicação de um livro, organizado por Fabrício Marques, sobre Sebastião Nunes, a ser lançado pela editora da UFMG na quinta-feira próxima. VIVA!
8.12.08
HOJE É O ÚLTIMO DIA PARA VOTAR!
CORRA!
Vá ao site do Cine SESI e escolha 12 filmes entre os que estão relacionados lá para integrar a mostra Achados&Perdidos 2009.
Envie sua seleção para o email: achadoseperdidos2009@gmail.com
Participe, dá sorte começar o ano revendo os melhores filmes!
7.12.08
1. Guardar um poema de Hilda Hilst no domingo
LXI
Um verso único
Oco de fundos
Extenso, vermelho-vivo
No túnel dos meus ouvidos:
Sempre comigo Sempre comigo.
Um verso escuro
De folhas-pontas
De nichos
De negras grutas
A língua excede seu exercício:
Sempre comigo Sempre comigo.
Um verso-vício
Constância e nojo
Vindo de uns lagos
De malefício.
Amor-partido
Torres
Poço-edifício
Um verso único num golpe nítido
Sempre comigo Sempre comigo.
HILST, Hilda. Cantares. São Paulo: Globo, 2002, p. 98.
6.12.08
"A VIDA É A SUPREMA REALIZAÇÃO DA ARTE"
Convide aquela pessoa e vá ao cinema. Ou vá sozinho/a. Você não vai perder essa chance deliciosa de assistir a um roteiro excepcional, dirigido e interpretado por grandes artistas... e que nos faz pensar: em como somos, como amamos.
Divirta-se, ria deles/as, ria de você mesmo/a.
Depois de tudo, mudou?
Vá ao cinema.
3.12.08
ELOGIO À SABEDORIA
Em grego antigo, sabedoria era phronésis. Palavra que vinha sempre acompanhada de outras palavras como alethéia (verdade) e eudaimonia (felicidade). Para os gregos, sabedoria surge nesse triângulo entre a verdade e a felicidade.
Nos dias de hoje, soa estranho citar termos gregos em uma conversa. Tudo que se busca atualmente são resultados, estudos dirigidos e quantificados. O conhecimento superficial está na moda, e vem resumido em manuais, manchetes de jornais e revistas semanais fáceis de memorizar.
É comum escutar os sabichões desse mundo super informado e cheio de dados dizerem que sabedoria é coisa para monge, felicidade é ilógica e verdade é apenas uma metodologia de convencimento. A sabedoria, nesse mundo de “doutores em quinquilharias” parece uma vulgata comprada na banca de revistas da esquina, que sai em fascículos e ainda oferece prêmios ao final do mês. Pensar do ponto de vista do sábio é quase uma impertinência, quando o senso comum é o limite da “sabedoria” mundial, que dá sentido para a vida de bilhões de pessoas.
Insistir na sabedoria é uma escolha política. Só a reflexão crítica permite isso que os gregos chamavam de phronésis, entendida como a capacidade de lucidez na deliberação, decisão e ação. Algo próximo do nosso conceito de prudência, que considera a existência do acaso, da incerteza, do risco, do desconhecido e do complexo na aventura humana. A prudência é a capacidade de levar em conta o impulso, pressupor a sua existência forte na nossa vida e forjar a ação refletida. Mas é bom lembrar aqui que a sabedoria (phronésis) é diferente de ciência (epistême). Ciência se refere ao conhecimento, à erudição e à informação. Foram os romanos que trouxeram a idéia de phronésis para perto da idéia latina de prudens, dando-lhe esse caráter de bom senso na ação. Na origem do termo, a phronésis (sabedoria prática) ganha o seu significado por se ligar aos sentidos. A palavra deriva de phren, e nos lembra que há um tipo de conhecimento que se adquire através da experiência, do saber prático.
É por isso que sabedoria não tem exatamente a mesma etimologia da palavra saber, mas está diretamente ligada à palavra sabor. Como sabor, a sabedoria diz aquilo que, na vida, somos capazes de dar gosto: comprazer, degustar. E é quando saboreamos algo (uma emoção, uma experiência, uma vivência), que temos condições, aí sim, de saber profundamente as múltiplas dimensões da vida.
Por isso sabedoria se distingue da ciência, porque o cientista não precisa ter experimentado o que diz, fala ou escreve. Com o sábio é diferente: ele fala daquilo que experimentou. A experiência sabida não é superficial, ligeira ou fugaz, mas vivida e saboreada intensamente.
Nesse mundo em que as pessoas estão acostumadas com as fugacidades, um mundo dos descartáveis, é cada vez mais difícil saborear. A grande maioria das pessoas desistiu de educar seus sentidos, apenas sucumbiu a eles. Em resposta a um turbilhão caótico de informações sensoriais, milhões de conhecimentos são consumidos. O conhecimento particular, que não é partilhado (idian phronesin) – é de onde deriva o termo idiotes, o idiota em sentido etimológico.
O idiota é incapaz de sair de si mesmo, engole tudo que recebe pela boca, pelos olhos, pelos ouvidos sem reflexão. Ao contrário de uma devoração crítica, falta-lhe critério de seleção e predomina sua incapacidade de interpretar, relativizar, criticar. O idiota fica “sem saber”, porque consome tudo de forma irrestrita: coisas, informações ou pessoas.
Sabedoria é complexidade. É reflexão, trabalho de pensamento e mudança. Mudar a si mesmo. Perceber camadas de acontecimentos que podem ser saboreadas com delicadeza. E a cada novo sabor, reinventar a alegria de perceber um mundo pleno de possibilidades.