31.1.10

(um poema de Roberto Piva)

Jorge de Lima, panfletário do Caos




foi no dia 31 de dezembro de 1961 que te compreendi Jorge de Lima
enquanto eu caminhava pelas praças agitadas pela melancolia presente
na minha memória devorada pelo azul
eu soube decifrar os teus jogos noturnos
indisfarçável entre as flores
uníssonos em tua cabeça de prata e plantas ampliadas
como teus olhos crescem na paisagem Jorge de Lima e como tua boca
palpita nos bulevares oxidados pela névoa
uma constelação de cinza esboroa-se na contemplação inconsútil
de tua túnica
e um milhão de vagalumes trazendo estranhas tatuagens no ventre
se despedaçam contra os ninhos da Eternidade
é neste momento de fermento e agonia que te invoco grande alucinado
querido e estranho professor do Caos sabendo que teu nome deve
estar como uma talismã nos lábios de todos os meninos

 
 
PIVA, Roberto. Paranóia. São Paulo: Massao Ohno, 1963
(livro relançado em 2000 pelo Instituto Moreira Sales)

29.1.10

DIREITO À REFLEXÃO


"O problema fundamental em qualquer empreendimento artístico é a tendência a separar o artista de seu público e, então, tentar enviar uma mensagem de um a outro. Quando isso acontece, a arte se torna exibicionismo. Uma pessoa pode ter um tremendo lampejo de inspiração e correr para 'colocá-lo no papel' para impressionar ou excitar os outros, e um artista mais calculista pode ter uma estratégia para cada passo de seu trabalho, a fim de produzir certos efeitos em sua audiência. No entanto, independentemente das boas intenções ou da realização técnica dessas abordagens, elas inevitavelmente se tornam canhestras e agressivas em relação aos outros e a si mesmas."




Chögyam Trungpa

ps: vale a pena visitar o blogue de MARCELO SAHEA, o POESILHA,  onde fui buscar a pérola acima.

28.1.10



ABAIXO ASSINADO PARA CRIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DO GANDARELA


Movimento pela preservação da Serra do Gandarela 
A Serra do Gandarela está localizada nos municípios de Caeté, Santa Barbara, Barão de Cocais, Rio Acima, Itabirito e Raposos na região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Faz parte da Reserva da Biosfera do Espinhaço, e apresenta alguns dos habitats mais significativos de toda a cadeia. Diversos estudos acadêmicos, concluídos e em andamento, e a compatibilidade da área com as legislações municipais, estadual e federal vêm reforçar a vocação e a necessidade de proteção integral desta área. 
Fazendo uma curva de mais de 180 graus, as cristas da serra são os vértices de um dos mais importantes sinclinais da região central de Minas Gerais e da Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte (APA-SUL RMBH), criada para preservar a biodiversidade e os mananciais que abastecem toda a região. Os campos rupestres sobre cangas são os mais preservados de toda a região, constituindo a principal área de recarga do Sinclinal Gandarela, a abastecer vários córregos e ribeirões, de classes Especial e 1, das bacias dos rios Piracicaba/Doce e Velhas/São Francisco – este último, à montante da principal captação para o abastecimento público da RMBH.  
Além de divisor das bacias hidrográficas dos rios Doce/Piracicaba e São Francisco/Rio das Velhas, o Gandarela forma um corredor ecológico natural com o Caraça, unindo as duas bacias.  
Podemos considerar a região do Gandarela como a área mais extensa com tal diversidade de características e que ainda não apresenta a exploração maciça de seus recursos minerais e a interferência urbana. A Mata Atlântica, no interior e nas vertentes exteriores da serra, é a maior e mais preservada de toda a região. Juntamente com os campos rupestres e os campos de altitude, guarda uma rica diversidade de flora e fauna, que abriga espécies endêmicas e em extinção, além de uma das maiores geodiversidades da região do Quadrilátero Ferrífero. Mais de 50 cavernas já foram cadastradas e um sítio Paleontológico de grande importância (constituído de depósitos sedimentares da idade terciária, ocorrência única de três unidades continentais empilhadas, do Eoceno Superior, Oligoceno e Mioceno Inferior). 
Trata-se finalmente de uma área mediterrânea entre referências fundamentais da topografia regional (Serra do Caraça, Serra da Piedade, Pico do Itacolomi e Pico do Itabirito) e da porção Leste do Quadrilátero, possivelmente a mais pujante do conjunto dos povoamentos originários do Ciclo do Ouro na região. 
Diante da importância da área acima exposta e o apoio das comunidades do entorno e da região metropolitana, várias  entidades solicitam a criação do Parque Nacional Gandarela para preservação ambiental e alternativa de desenvolvimento turistico e cultural  da região conforme abaixo assinado  que deve ser encaminhado para a sede do Projeto Manuelzão.
PARA ASSINAR, CLIQUE AQUI.


27.1.10

ROBERTO PIVA



Na crônica da poesia brasileira, atitudes práticas  em favor dos poetas são incomuns. Agora é hora de fazermos algo, URGENTEMENTE, em benefício de um dos grandes poetas vivos, para quem vida e poesia são uma coisa só. Segundo notícias que chegam pelos poetas Ademir Assunção, Marcelo Sahea e Ricardo Aleixo, Roberto Piva está internado no Hospital das Clínicas, em São Paulo, e precisa de recursos financeiros para se manter em condições dignas, lá dentro e também após o tratamento. Poetas não vivem de brisa. É preciso agir.
Quem puder e quiser deve fazer um depósito na conta bancária dele, que será movimentada por pessoas confiáveis, presentes ao lado de Piva nesse momento difícil.

Itaú
agência 0036
cc 20592-0
cpf 565 802 828-00



ATIVIDADES ESSENCIAIS DA VIDA

RESPIRAÇÃO, MOVIMENTO, ALIMENTO,

PENSAMENTO, RELACIONAMENTO







O texto da Sônia Hirsch, que eu copio abaixo, está no blogue dela que você pode conhecer clicando aí: DEIXA SAIR. Sônia estará em São Paulo, nos dias 5 e 6 de fevereiro, para uma oficina no SESC. Será que ela não quer vir a Maceió?




Há muita coisa que a gente põe pra dentro todo dia, depois não deixa sair e ainda reclama: Estou engordando! Meu intestino não funciona! Tenho o colesterol alto! Triglicerídeos! A glicose é alta também! Sinto cólicas menstruais horríveis, pedras nos rins e na vesícula, mau hálito, colite, diverticulite, rinite, sinusite, catarro nos pulmões, corrimento, alergias, suor fedido, ouvido meio surdo, articulações emperradas, cistos, tumores, varizes, ameaças de enfarte, ai, que dor de cabeça!

Curioso. Porque o nosso corpo é feito justamente pra deixar sair, e assim evitar qualquer doença. A gente faz coco, xixi, sua arrota, peida, expira, tosse, chora, menstrua, assoa o nariz, tem orgasmo e outras coisas pra se livrar de excessos que, em ficando, perturbam o bom funcionamento físico, mental e espiritual.

Aquela tensão na nuca é um excesso que tem que sair. Aquele ideal vibrando no peito um dia tem que sair. Talentos abandonados e apetites mal satisfeitos acabam virando doença.

Quando não se deixa sair, o final mais provável é o hospital. Por isso é que todo mundo tem que ter seguro médico-hospitalar, já que pode ficar doente a qualquer momento, e doença é despesa. Só que, como dizia Gandhi, a multiplicidade de hospitais não é sinal de civilização, é sintoma de decadência.

Não tem aquele papo de que pra baixo todo santo ajuda? Pois é: pra piorar, tá fácil.
A comida moderna, o stress urbano, a poluição, a crise econômica, a pasteurização cultural, tudo isso são pressões e invasões difíceis de evitar, que acabam fazendo a gente se sentir meio qualquer coisa, vivendo de qualquer jeito.

Mas é possível reagir a isso em outro tom, construindo um mundo interno forte e bem protegido. E também é possível aprender a eliminar os excessos de toxinas físicas e mentais através das cinco atividades essenciais da vida: alimentação, respiração, movimento, pensamento e relacionamento.
São práticas simples, baseadas num princípio só, que é o entra-e-sai.




25.1.10


24.1.10

OPERAPRIMA




22.1.10

ATÉ QUE A SORTE NOS REPARE








(composição com foto a partir do verso de tzambi em http://ophicina.blogspot.com)

20.1.10




Indiferente às considerações dos críticos, vá assistir ao mais recente filme de ALMODÓVAR.



17.1.10




VALE A EXPLICAÇÃO



Há exatos 6 meses e uma semana, no dia do meu aniversário de 50 anos, trouxe para casa a muda de uma planta. O nome dela: IRIS, tão precioso, me encantou.
Era só um bulbo e uma folha. Era só promessa de uma flor.
Nesta manhã, desabrochou. E a necessidade de falar dela me despertou.


Lembrei-me de Cabral ("como não invocar o/ vício da poesia" ?)conhecendo que poesia não é flor, é fezes. "Poesia, te escrevo/ agora: fezes, as/ fezes vivas que és".


Dedico esta postagen à Susana Souto, que tem sabido fazer brotar flores da merda.
E a Ricardo Aleixo, com carinho e admiração, pela IRIS que o fez poeta.


















Série dísticos & motes

(a merda e a flor)



Pois claro está que tudo vira bosta:

a Rita já cantou,

o Glauco é coprofágico,

Cabral vivos dejetos proclamou.


É que um esterco serve a muita coisa,

e  sobretudo me agrada a cor

da Iris que no meu jardim

brotou da terra misturada com cocô.


16.1.10

Um trecho do manifesto para a Insurreição TransFeminista 





"Somos una realidad, operamos en diferentes ciudades y contextos, estamos conectadxs, tenemos objetivos comunes y ya no nos calláis. El feminismo será transfronterizo, transformador transgenero o no será, el feminismo será TransFeminista o no será…
Os Keremos."
Red PutaBolloNegraTransFeminista.





Extraído de Beatriz Preciado


O SEU AMOR 

                       
(Gilberto Gil, em tempos de 
DOCES BÁRBAROS)


O seu amor
Ame-o e deixe-o livre para amar
Livre para amar
Livre para amar



O seu amor
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser


O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz


O seu amor
Ame-o e deixe-o ser o que ele é
Ser o que ele é


15.1.10

BOA LEMBRANÇA



Da MTV e da BBDO Düsseldorf para homenagear Michael Jackson.

14.1.10

"EL AUTOR MÁS EMBLEMÁTICO:2000-2010"


É ELE! KENNETH GOLDSMITH!







Para fazer coro com Tazio Zambi, taí; publico fotos do homem e indico  o site da Milenio, onde o editor do genial UbuWeb aparece citado.

Veja também (em inglês) referência recente a Kenneth Goldsmith no site do Portland Institute for Contemporary Art.

No mais, UBU são riquezas e isso faz diferença.


12.1.10


DICA




 





Revista Bula
a Bula é uma revista opinativa de variedades produzida por um coletivo de amigos concluintes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). No blog http://bulamais.blogspot.com estão disponíveis para visualização e download gratuito a versão digital das edições impressas e ainda textos exclusivos, vídeos, áudios, fotos e outras imagens.


11.1.10

SANS RIVAGE




"Cada ladrilhinho, cada azulejo, cada rima, cada verso, cada elemento poético vai compondo uma panorâmica sistemática que abole o começo-meio-fim encadeado militarmente nesta ordem de progresso jade-oliva. Pour une poétique sans rivage"


HOMENAGEM A WALY SALOMÃO

Elas, amigas cadelas,
num passeio à beira-mar


10.1.10

ECOS DE MACEIÓ

Do outro lado do Farol,
entre o Diocesano e o Marista,
vê-se abaixo, onde outrora foi um rio,
o Vale do Reginaldo:
favela enorme espalhada pela grota,
subindo encostas.
Mais à frente, chega ao mar
a imundície que a céu aberto
atravessa quase toda a cidade.




 

 

 

 

8.1.10

Desenho de leitura




Após a leitura de "Natureza Morta", de Solange Sohl (Patrícia Galvão), Felipe Ernesto realizou o desenho acima, que divulgo com muita alegria.

7.1.10

 MEU IRMÃO


se um amigo é metade e o perigo
um irmão de verdade é mais que tudo


(muito bom ter você sempre por perto
festejar sua garra e sua força:

não sou suspeita pra falar de você,
Moacyr,

sou parceira e cúmplice pra vida inteira)





6.1.10

DIA DE REIS



2.1.10

A LENTIDÃO

Agarre o tempo: a potência da libertinagem versus à impotência tirânica do consumo

"A forma epistolar das Ligações perigosas não é um simples procedimento técnico que poderia ser substituído por outro. Essa forma é eloquente por si mesma e nos diz que tudo aquilo que os personagens viveram foi vivido para ser contado, transmitido, comunicado, confessado, escrito. Num mundo em que tudo se conta, a arma ao mesmo tempo mais facilmente acessível e a mais mortal é a divulgação.(...)
Nada nesse romance é segredo exclusivo de dois seres; todo o mundo parece estar dentro de uma imensa concha sonora em que cada palavra sussurrada ressoa, ampliada, em ecos múltiplos e intermináveis. Quando eu era pequeno, diziam-me que colocando uma concha na orelha eu ouviria o eterno murmúrio do mar. É assim que, no mundo de Laclos, cada palavra continua audível para sempre. Será isso o século XVIII? Será isso o paraíso do prazer? Ou será que o homem, sem se dar conta, sempre viveu numa dessas conchas ressonantes? Em todo caso, uma concha ressonante não é o mundo de Epicuro, que ordena a seus discípulos: "Viverás escondido!""


KUNDERA, Milan. A lentidão. Tradução de Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca e Maria Luiza Newlands da Silveira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995, p.13-14.

1.1.10




O mago mandou avisar...

Para cantar o dia todo!
 

O mago mandou avisar:
Água de beber, água de benzer
Água de banhar

Alcohol só para desinfetar
Eu quero água

Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alcohol só para desinfetar
Eu quero água
Porque o céu é água marinha
Porque o sol é ouro
Porque a lua é prata
Porque a chuva é cristalina
Porque o mar é esmeralda
Porque somos seres terrestres
Porque São Jorge mora na lua
Porque você não vem me dar um beijo
Um beijo de amor e de desejo

Porque eu gosto tanto de você
Eu gosto tanto de você
Eu gosto tanto de você

Na hora do espanto
Não precisa ter olho clínico para saber
Para saber
Que o melhor é ficar tudo em família
Um controle ambiental
Pois contra uma lingua atômica
Nem mesmo um para-raio digital

Cada palavra caçada
É um compasso de um passado
Que foi enterrado
A caça ao fantasma continua porque
O fogo é mais antigo que o fogão
Em busca de uma nova identidade
Na fila dos aposentados

Um radical chic espera a sua vez
Jogando xadrez

Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alcohol só para desinfetar
Eu quero água

Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alcohol só para desinfetar

Em vez de uma nova trombada
Uma marcha ré com dignidade
É melhor do que ficar com pesadelos

Tédio, calça arriada, queda de audiência
Filme queimado
Aquele homem groover
Aquele santo homem
Só porque gostava
De andar de terno branco,
Camisa de seda, cordão de ouro,
Chinelo ou tamancos
Era chamado de marginal
Subir, descer, entrar, sair
Faz parte do talento individual de cada um

Porque você não vem me dar um beijo
Um beijo de amor e de desejo
Porque eu gosto tanto de você
Eu gosto tanto de você
Eu gosto tanto de você
O mago mandou avisar.