30.4.09

MuSimid


5º Encontro de Música e Mídia: "E(st)éticas do Som"


Escola de Comunicações e Artes
Universidade de São Paulo
16, 17 e 18 de setembro de 2009

Neste ano, o tema - E(st)éticas do Som - atende, como nas versões anteriores, a uma abordagem multidisciplinar da linguagem musical. Igualmente aos eventos anteriores realizados (As múltiplas vozes da cidade, 2005; Verbalidades, musicalidades: temas, tramas e trânsitos, 2006, As imagens da música, 2007, O Brasil dos Gilbertos: Gilberto Freyre, João Gilberto, Gilberto Gil e Gilberto Mendes, 2008), o evento científico e artístico pretende reunir pesquisadores, músicos (compositores, instrumentistas, cantores) e demais estudiosos das áreas que tangenciam a linguagem musical.

O objetivo do evento centra-se, prioritariamente, na promoção de debates nas áreas afins à “semiótica da música midiática”, campo de estudo ainda recente, campo teórico o qual se encontra, ainda, em construção. Além do intercâmbio científico, almeja-se produzir e organizar documentação a respeito dos conteúdos debatidos no evento (audiovisuais, depoimentos, debates, apresentações musicais). Com os textos publicados em anais e outras atividades registradas em áudio e vídeo (a exemplo das edições anteriores), espera-se estar-se contribuindo para os estudos sobre o tema do Encontro, ainda pouco explorado, na vertente aqui proposta.

Chamada de trabalhos

Acesse o link "5º Encontro: E(st)éticas do Som" para todas as informações necessárias.

Datas importantes:
Envio de resumos: 21 de junho
Recebimento da resposta: 30 de junho
Envio do texto completo: 15 de agosto

Inscrições para ouvintes já estão abertas!

29.4.09

A REGRA DO JOGO





















Oportunidade muito bacana de assistir

ao clássico (de 1939) filme de Jean Renoir

no telão: sessão extraordinária de "A regra do jogo",

no feriado, 1º de maio, no Cine Sesi, às 15h30.

Vai perder?

27.4.09

UMA COSMOLOGIA INDÍGENA




















O Museu do Índio, no Rio de Janeiro, abriga uma exposição muito rica, "A presença do invisível", que realça variações e continuidade do tempo na cultura dos povos indígenas do Amapá, habitantes da bacia do rio Uaçá e do baixo curso do rio Oiapoque.

KARIPUNA, PALIKUR, GALIBI-MARWORNO e GALIBI-KALI'NA:

povos que resultam de várias migrações e fusões antigas e mais recentes, mas que têm conseguido conviver e construir um espaço de interlocução e somam hoje uma população de 5 mil índios.

A beleza de seus trabalhos e a força de seu patrimônio merecem ser conhecidas e homenageadas.






















































* A primeira foto, do menino índio, ilustra o folder "A presença do invisível".
As outras foram feitas por mim, durante minha visita à exposição.

Maiores informações, clique aqui

25.4.09

ENCANTADA POR SANTOS DUMONT




Alberto Santos Dumont construiu, em 1918, uma residência de verão em Petrópolis, na Rua do Encanto, que ficou conhecida como
“A Encantada”.







O prédio, um chalé alpino francês, não tem paredes internas e suas divisões são seus três pavimentos. O primeiro andar é uma pequena oficina mecânica e uma câmara escura para fotografias. O segundo servia como sala de estar, jantar e biblioteca.























No terceiro plano, um misto de escritório e dormitório. Santos Dumont usava a mesma superfície onde trabalhava, desenhava e escrevia durante o dia para colocar um colchonete e dormir à noite. (Quanta austeridade!)

Ao lado desse ambiente, seu banheiro com um chuveiro engenhoso, feito com um balde e com duas alavancas, que proporcionava água aquecida a álcool. Desse piso sai uma porta dos fundos com uma passagem de madeira que liga ao terraço, de onde sai outro acesso, de folha de flandres, para um observatório astronômico.




























Um dos detalhes mais interessantes da Encantada é a escada recortada em forma de raquete, que nos obriga a começar sempre com o pé direito.

VOA, MEU SAMBA



DIÁLOGOS EM RITMO DE SAMBA


De Oswald a Arrigo, passando por Eduardo das Neves, o Brasil campeão, de Ademir da Guia e de Santos Dumont







A Europa curvou-se ante o Brasil


7 a 2
3 a 1
A injustiça de Cette
4 a 0
2 a 1
3 a 1
E meia dúzia na cabeça dos portugueses


O poema de Oswald de Andrade, de 1925, comemorava os feitos do Paulistano no futebol internacional. O título do poema transformou-se em verso da composição de Eduardo das Neves, que fala de Santos Dumont como "estrela":


A conquista do ar

(Letra e música de Eduardo das Neves - aqui )

A Europa curvou-se ante o Brasil / E clamou “parabéns” em meio tom. / Brilhou lá no céu mais uma estrela: / Apareceu Santos Dumont.

Salve, Estrela da América do Sul, / Terra, amada do índio audaz, guerreiro! / Santos Dumont, um brasileiro!

A conquista do ar que aspirava / A velha Europa, poderosa e viril, / Quem ganhou foi o Brasil!

Por isso, o Brasil, tão majestoso, / Do século tem a glória principal: / Gerou no seu seio o grande herói / Que hoje tem um renome universal.

Assinalou para sempre o século vinte/ O herói que assombrou o mundo inteiro:/ Mais alto que as nuvens. / Quase Deus, Santos Dumont - um brasileiro.





Tudo isso fez Arrigo Barnabé inventar um samba, no disco TUBARÕES VOADORES (1980).






A composição de Arrigo para Santos Dumont abre com versos de Oswald na levada de Caetano Veloso:


“No Pão-de-açúcar de cada dia/ daí-nos, Senhor, a poesia de cada dia”.



Arrigo Barnabé declarou:


“A europa curvou-se”, era um material que eu havia composto em 1977/78, uma primeira experiência com o dodecafonismo, tentando utilizá-lo em alguma coisa de raiz brasileira. Isso ficou como 1ª parte, o Bozzo Barreti fez a 2ª parte, então ficou uma canção, um “samba”, com 2 partes.”


A EUROPA CURVOU-SE ANTE O BRASIL

Carlos Renó (letra)

Arrigo Barnabé e Bozzo Barreti (música)


Ao ver o pássaro planar no céu voar

Já era o sonho, o aéreo plano

De um menino a empinar pipa no ar

Queria ser o inventor do avião

Entre um par de asas mandaria brasa

Sabe quem era o sonhador: Santos Dumont

Com sua pose e seu chapéu em pleno céu

No 14 bis tal e qual um giz o quadro azul

Do ar riscou e se arriscou

Sobre a história e o chão num vôo bom

Foi a glória ao homem nas alturas móveis

A nossa mãe da invenção: Santos Dumont

Não viva todo mundo não, viva o Dumont

Que esteve à margem mas teve coragem

A nossa mãe da invenção: Santos Dumont.


11.4.09

BURLE MARX


Humanista Poliédrico

é o termo bem empregado pelo curador, Lauro Cavalcanti, na apresentação dos 335 trabalhos reunidos no Paço Imperial, no centro do Rio de Janeiro - a maior retrospectiva de trabalhos do conhecido paisagista.

Autor de mais de três mil projetos de paisagismo em 20 países, premiado como pintor e designer de jóias, ceramista, tapeceiro, autor de cenários e figurinos para teatro e óperas, músico, ecologista desde os anos 70, Roberto Burle Marx [SP, 1909-RJ, 1994], faz jus ao título da exposição “A permanência do instável”, que celebra seu centenário de nascimento.


A exposição, que fecha a trilogia sobre nosso modernismo, iniciada em 2002 com a mostra “Lucio Costa: 100 anos”, e, em 2007, com “Oscar Niemeyer 10100”, ocupa os três andares do prédio e é uma parceria do Paço e da Fundação Roberto Marinho, com patrocínio do Itaú Cultural.


O curador se propõe a fazer um mapeamento da múltipla produção artística de Burle Marx – o maior dos paisagistas do século XX e criador da linguagem moderna do paisagismo no mundo. Entre as principais obras do paisagista estão o City Centre Park, de Kuala Lumpur, Malásia, em 1993, sua última obra; o Parque Del Este, em Caracas, Venezuela; Parque do Flamengo e Calçada da Avenida Atlântica no Rio de Janeiro; Parque do Ibirapuera e Jardim Botânico, em São Paulo, do Parque Zoobotânico, em Brasília, jardins da Pampulha, e do pioneiro Parque de Araxá, realizado nos anos 40.

A numerosa reunião de trabalhos do artista e a excelente curadoria (cuidadosa, transparente) da exposição têm o mérito de enfatizar o diálogo entre as obras apresentadas no Paço e as demais realizações do paisagista.

Visite o site da exposição http://www.burlemarxnopacoimperial.org.br/

Visite o site oficial do artista http://www.burlemarx.com.br/index.htm

Visite o site do Sítio Burle-Marx http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=12825&sigla=Institucional&retorno=detalheInstitucional


Data e horário: até 22 de março de 2009, de terça a domingo, das 12h às 18h Local: Paço Imperial - Praça XV de Novembro, 48 – Centro - Rio de Janeiro - RJ

Entrada Grátis

9.4.09

BODE REI CABRA RAINHA

Acabo de assistir aos 55 minutos do filme de Helena Tassara: simplesmente fabuloso, de uma grandeza que só o cinema-poesia permite. Tudo muito bem construído, roteiro, música, fotografia, montagem. E a palavra extraordinária de Cabral, Euclides da Cunha, J. Borges.
Até a presença bizarra de Ariano Suassuna ganha sentido no contexto desse trabalho.

É ver para saber "o aço do osso, que resiste/ quando o osso perde seu cimento".

........

O núcleo de cabra é visível
debaixo do homem do Nordeste.
Da cabra lhe vem o escarpado
e o estofo nervudo que o enche.

Se adivinha o núcleo de cabra
no jeito de existir, Cardozo,
que reponta sob seu gesto
como esqueleto sob o corpo.

E é outra ossatura mais forte
que o esqueleto comum, de todos;
debaixo do próprio esqueleto,
no fundo centro de seus ossos.

A cabra deu ao nordestino
esse esqueleto mais de dentro:
o aço do osso, que resiste
quando o osso perde seu cimento.

........


"Poemas da Cabra"
João Cabral de Melo Neto

8.4.09

EM PLENO ABRIL

UMA REFLEXÃO DE MARÇO, SOBRE AQUELE OITAVO DIA

Eu, que nunca fui feminista, que nunca passei lista de assinaturas para defender movimentos de mulheres, cada vez mais percebo que a violência, (sim!!! principalmente contra a mulher), exige cuidado e atenção.
Recebi o texto abaixo de minha querida amiga Ondina Pereira, filósofa e antropóloga muito sabida, e todo o contexto me faz pensar.
Um texto de uma colunista econômica, em jornal de grande circulação. Mais que a informação, o modo delicado de relacionar os fatos.
FAZ PENSAR.

O link para a coluna da autora, Miriam Leitão, está aqui.



Derrotas de março
Antes que março acabe, eu queria dizer o que me derrota. A Itália descobriu um caso repugnante de estupro sequencial de pai e filho contra a mesma mulher, filha e irmã dos dois. A Áustria encarcerou o monstro que manteve a filha no porão, prisioneira de estupros contínuos. Aqui, a discussão da menina que em Recife foi estuprada e engravidou do padrasto ficou em torno da decisão medieval do bispo.
Estes são apenas casos de março, outros surgiram: o da menina de 13 anos, no Brasil que, grávida do pai — por quem passou a ser violentada a partir da morte da mãe — decidiu ter o filho. Cada um dos dramas é tão vasto. Penso nestas meninas e mulheres e na antiguidade da sua pena. Condenadas, antes de nascer, pelo mais intratável dos lados da opressão à mulher: o suplício sexual.
Melhor seria escrever uma coluna racional, com os dados que provam a exclusão da mulher do poder no mundo, ou da sua discriminação no mercado de trabalho, ou do preconceito embutido nas propagandas. Seria menos doloroso. Há pesquisas novas, interessantes. Com os dados, eu provaria que a mulher avançou nos últimos anos, e que a sociedade equânime ainda está distante. Falar desse aspecto do problema seria até um alívio.
Mas o que tem me afligido são esses casos espantosamente cruéis que acontecem em países diferentes, classes sociais diferentes, religiões diferentes. A vítima é sempre a mulher. A sharia, que voltou a ser código aceito em todo o Paquistão, condena a mulher a receber a pena no lugar de alguém da família que tenha cometido um delito. Normalmente, essa pena é estupro público e coletivo. Foi assim com a notável Mukhtar Mai, a paquistanesa que venceu seus estupradores em uma luta desigual e heroica na justiça comum. No livro “A Desonrada”, ela contou seu suplício e sua vitória.
Eu podia fingir que não sei das estatísticas da violência contra a mulher, e pensar que cada caso é apenas mais um louco em sua loucura, pegando uma vítima aleatória. Melhor ainda, fugir completamente do tema. Afinal, esta é uma coluna de economia e as pautas e assuntos sobre o tema são inúmeros. A nova regulamentação do mercado financeiro americano para prevenir crises como a atual; ou o desequilíbrio econômico e financeiro dos países do leste europeu; ou ainda o risco de déficit em conta corrente nos países exportadores de commodities metálicas. Assuntos áridos, fáceis. Qualquer um deles permitiria que esta coluna fosse para longe do horror imposto às mulheres por pais, padrastos, irmãos, namorados, ex-namorados, maridos, ex-maridos. Em qualquer um desses temas eu teria muito a dizer, mas o que dizer da morte da jovem Ana Claudia, de 18 anos, esfaqueada no pescoço pelo pai do seu filho, de quem tinha se afastado, saindo da Bahia para São Paulo, para fugir dos maus tratos frequentes? Ou Eloá, a menina de 15 anos morta pelo ex-namorado, depois de sofrer por dias, em frente a uma polícia equivocada? Na época do caso, o comandante da operação, o coronel Eduardo Félix de Oliveira, definiu Lindemberg Alves, o assassino de Eloá, como um “garoto em crise amorosa”. Era um algoz que espancou e matou sua vítima.
O abuso de crianças não escolhe sexo. A pedofilia faz vítimas entre meninos e meninas, e em ambos é igualmente abjeta e inaceitável. Mas a frequência, a crueldade, a persistência dos ataques às meninas mostram que o crime é parte de um outro fenômeno mais antigo: o da violência contra mulheres de qualquer idade.
As leis que mantêm a desigualdade em inúmeros países, com o argumento de que essa é a cultura local, o alijamento da mulher das estruturas de poder, a recorrência de casos em que ex-namorados ou maridos matam para provar que ainda têm poder sobre suas vítimas são alguns dos vários lados de uma velha distorção.
Como estão enganadas as mulheres que, por terem tido algum sucesso em suas carreiras, acham que a questão da condição feminina, a velha questão feminista, está ultrapassada. Apenas começou o trabalho de construir um mundo de respeito.
Mas se é fácil discutir políticas públicas para vencer o poderoso inimigo da desigualdade, é paralisante o tema dessa vasta violência praticada em todos os países, em todas as culturas, em tantas casas contra meninas e mulheres que não conseguem se defender.
É espantoso o caso da mulher italiana, de 34 anos, vítima desde os nove anos de idade dos estupros do pai e depois do irmão, que também estuprou suas próprias filhas. Ela chegou a ir à polícia há 15 anos, mas não foi levada a sério. Hoje tem problemas psicológicos. Como não ter?
Pode-se encarcerar cada um dos estupradores e condená-los. Eles merecem toda a punição que a lei de cada país comportar. Mas é preciso ver o horizonte: os casos são frequentes demais, as estatísticas são fortes demais, para que sejam apenas aberrações eventuais.
Março tem um dia, o oitavo, que é “da mulher”. Não pela efeméride, mas por envolvimento com o tema, eu costumo aproveitar a data para analisar, neste espaço, algum aspecto da discriminação contra a mulher. Mas este ano, a imagem da pequena e frágil menina de Recife me derrotou. Tenho tido medo que nunca acabe o sofrimento das pessoas que integram a parte da humanidade a qual pertenço. Fico, a cada novo caso, como os muitos desse março, um pouco mais derrotada.