Ainda se encontra no Instituto Itaú Cultural, até 14 de setembro, a mostra da bienal internacional de arte e tecnologia "emoção art.ficial 4.0". Se você procurar no google, encontrará milhares de referências a esse evento. No criativo punk, por exemplo, aparece o catálogo da mostra, com fotos e descrições das 16 obras expostas. Claro que também é possível acessar informações no próprio site do Itaú.
Quero comentar dois aspectos que chamaram minha atenção. O primeiro, parte da diversidade dos trabalhos apresentados. Se essa é uma significativa marca de nosso tempo, a emergência! só vem confirmar isso. Dos 16 trabalhos, encontramos 11 países representados, 14 artistas e dois coletivos, e cada obra traz características muito particulares. O que há em comum, no entanto, em meio a tanta diversidade, pode ser resumido nos conceitos de deslocamento, indeterminação, multiplicidade e simultaneidade.
Toda realização artística indica um deslocamento, é claro. No mínimo, no que se refere ao que estava na cabeça do artista e se materializa no que ele manifesta. Mas no caso dessas obras do campo cibernético, o deslocamento se amplia. É o que acontece com a orquestra de Martin Lübcke e Olle Cornéer, da Suécia, formada por "células auditivas" que provocam a interação com o público e, a partir de um software especial, evocam temas clássicos da história da música. Tudo está deslocado na "The bacterial orchestra": o lugar da apresentação, os temas de Mozart ou do acid house, os participadores.
A indeterminação atravessa também todos os trabalhos da bienal. O RAP3 - Robotc Action Painter, por exemplo, do português Leonel Moura, demonstra isso claramente. O robô realiza pinturas baseado em seu código em sintonia com os imputs do público. O programa foi construído com ênfase na capacidade da máquina de decidir, por ela própria, o momento em que o seu "quadro abstrato" está concluído. A assinatura no canto inferior da página é o sinal de que encerrou aquela tela.
A multiplicidade, no sentido de movimento constante, está no próprio nome do trabalho de Nicolas Reeves, dos EUA. Seu "Mutations of the White Doe" é formado por três esculturas de polímero translúcido, elaboradas com base num algorítmo genético. Cada ponto desse trabalho aponta outro ponto, indica o aspecto múltiplo das relações entre presente, passado e futuro.
A simultaneidade tanto pode ser vista na reunião de tão diversas propostas em um mesmo espaço, quanto na hora exata em que qualquer um "entra" na exposição. Simultânea é a fachada do Instituto Itaú Cultural revestida pela instalação do francês Pascal Dombis, feita da sobreposição de 1,5 milhão de linhas coloridas. Tantas linhas mostram a simultaneidade entre o jogo de varetas e um programa de computador.
Finalmente, outro aspecto que quero registrar é o fato de ter ficado mais interessada por dois trabalhos. "RELER", da brasileira Raquel Kogan, e "Bachelor - the Dual Body", do coreano Ki-Bong Rhee. Dentre tantos estímulos na bienal, sem saber bem a razão, me detive por mais tempo nesses dois trabalhos e só depois percebi que estava, justamente, confirmando meu gosto pelo já conhecido: o livro. Ambos os trabalhos que destaco são espécies de reflexões sobre essa mídia campeã.
Raquel Kogan constrói uma biblioteca com 50 volumes, todos de madeira. Ao retirá-los da estante e abri-los, o participador ouve a voz de alguém que lê, por cerca de dois minutos, seu trecho favorito da literatura mundial, em português.
Mas a escultura mais linda, para mim, foi a conseguida pelo efeito de submersão do livro numa espécie de aquário em cujas águas as folhas se movem e se oferecem à leitura. Pura emoção. Art.Ficial?
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27.8.08
Bachelor - the Dual Body
de Ki-Bong Rhee (Coréia, 2003)
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